Uma vez que renunciei à fé, à
esperança religiosa propriamente dita e também às esperanças messiânicas que
entrevira no marxismo ou no comunismo, encontrei-me só e nu, como diz Sócrates.
Ou seja, ante a vida tal como ela é. Mas não creia que escolhi o desespero por
gosto pela tristeza; é exatamente o contrário. Um psicanalista me escreveu,
quando saiu meu primeiro livro, que apreciava seu conteúdo “porque”, dizia ele,
“como psicanalista, como terapeuta, constato que a esperança é a principal
causa de suicídio”. Por quê? Porque se comete suicídio sobretudo por decepção. Em
outras palavras, é muito bonito esperar isto ou aquilo, seja para esta vida
seja para uma outra; mas, é preciso constatá-lo, a vida não deixa de continuar!
A vida como ela é: a vida real.
Ora, o que eu constato (mas como
todo mundo, me parece) é que a vida, no fundo, é decepcionante. Porque ela não
corresponde ás nossas esperanças. De forma que, diante das decepções que a vida
não cessa de lhes infligir, muitas pessoas julgam que, se a vida não satisfaz
suas esperanças, é a vida que não tem razão! E fecham-se assim vivos na
amargura e no ressentimento...
A escolha do materialismo é
justamente esta: em vez de dizer “Se a vida não responde às minhas esperanças,
é a vida que não tem razão”, diremos “A vida faz o que ela pode!”, “A vida é
pegar ou largar”. Pois não há nada demais.
O real é pegar ou largar. São minhas
esperanças que, desde o início, são infundadas. Cessemos de sonhar a vida,
cessemos de esperar viver... e vivamos!
(André Comte-Sponville; O alegre
desespero)
Um comentário:
Olá, seu blog está de parabéns. A atmosfera daqui é inspiradora, e tudo é feito com esmero e dedicação. Dê uma conferida no meu depois, se quiser. Adorei este espaço, abraço!
http://madamshadow.blogspot.com.br/
Postar um comentário